Sunday, June 17, 2012


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/47/Umschlagplatz_loading.jpg

 



janka’s sealed trains

he finds her, she is lost to herself/ he holds her, blows life back into her/ tells her tell me all about the war tonight/ and we will not utter the word for ten years

she fourteen rich cracow cream safe pianist mom officer dad ordered to move cramped apartment work since dawn like an adult bed at dusk like a child transfer on truck furious barking uniforms to ghetto hell what could be worse vows to hate uniforms forever now you can’t work learn to beg and wait rumors of prison camps no no they are labor camps await transfer in  sealed trains on filth and five day thirst to bergen belsen vows never to ride a train again greeted by violins strung with barbed wire meet the furnace learn the art of invisibility beg to work steps to final solution germans extract cherubic choir voices from walking piles of bones vows to despise choir forever if there is any no papers no letters no food no hair mother dying father a fourteen year old daughter’s hero sitting home in officer’s garb under a halo from hague she and mother in cotton stripes toes freezing solid entrails burning typhoid fever lice don’t seem to mind kappo bat language years like ice water down her spine weak but alive sick but stubborn dead but alive works for schindler’s print shop can wash hands to keep papers clean a luxury brings back a rotten potato incalculable wealth hidden under cotton stripes scale says dead she says alive refuses to give final step to solution  war ends mother ends british feed the dead canned beans soldier rations unprepared to see life after death especially surprised politely annoyed jewish god has saved some resurrected others camp is free they have nothing are nothing drags the 27 kilos left of her bones kilometers to find work rather than wait for final solution death or insanity same thing first she wants a toothbrush alive will deliver herself be born again write her own equation that night be silent for ten years or ten lives whichever comes first

she marries him/ he writes chronicles of good men/ he dies/ she writes the truth  

janka e os trens trancados


ele a encontra / ela perdida de si / ele a abraça / sopra de volta a vida nela / diz-lhe me conte tudo da guerra esta noite / e não diremos mais a palavra por dez anos

ela quatorze rica crème cracóvia segura mãe pianista pai oficial obrigada mudar-se aparta­mento apertado trabalhar desde madrugada como adulto cama ao anoitecer como criança caminhão transfer uniformes latindo furiosos ao inferno do gueto o que poderia ser pior jura odiar uniformes para sempre agora você não pode trabalhar aprende mendigar e esperar boatos de campos prisão não não campos de trabalho esperar transfer trens trancados na imundície sede de cinco dias para bergen-belsen jura nunca mais andar de trem recebida por violinos de corda de arame farpado conhece os fornos aprende a arte da invisibilidade implora trabalho passos para a solução final alemães extraem vozes de anjos em coro de pilhas de ossos ambulantes jura odiar coro para sempre se isso existir sem documentos sem cartas sem comida sem cabelo mãe morrendo pai herói de filha de quatorze em casa em uniforme de oficial sob abóboda de haia ela e mãe em listas de algodão artelhos congelados entranhas queimando febre tifoide piolhos não se importam cassetete língua de kappo anos feito água gelada na espinha fraca mas viva doente mas teimosa morta mas viva trabalha na gráfica de schindler pode lavar as mãos para não sujar papel limpa um luxo traz batata po­dre fortuna incalculável escondida sob listas de algodão balança diz morta ela diz viva se recusa dar passo final à solução guerra acaba mãe acaba ingleses dão aos mortos feijão en­latado ração de soldado sem preparo para ver vida após morte especialmente surpresos po­lidamente irritados que o deus judeu salvou alguns ressuscitou outros eles nada têm nada são ela arrasta os 27 quilos que sobraram dos seus ossos quilômetros achar trabalho em vez de esperar morte ou insanidade mesma coisa primeiro quer escova de dentes viva se libertará nascerá outra vez escrever sua própria equação aquela noite fazer silêncio por dez anos ou dez vidas o que vier primeiro

ela o desposa / ele escreve crônicas de homens bons / ele morre / ela escreve a verdade

5 comments:

  1. Postado em nome de Marieta Boimel:
    Post- De novo, fiquei emocionada com o post.O sofrimento intenso, a dor a que só os fortes podem resistir apesar da fragilidade que a tragédia despejou sobre os sobreviventes. É imaginação ou traz um pouco da vida de seus sogros? Pode até não ser, mas sugere.

    Beijo

    Marieta

    ReplyDelete
    Replies
    1. Querida Marieta,
      Obrigada, obrigada, obrigada. Acertou em cheio, "Janka" é o nome da minha sogra em polonês, aqui "Janina".
      beijo

      Delete
  2. Postado em nome de Angélica:

    Bacana, Vivian, com prazer.
    Vou visitar depois com mais calma, mas já entrei, dei uma olhada e gostei do que li.
    Piano tunner dói, até pq tenho uma amiga que parece ser a musa dele...
    Um abraço, sucesso,
    Angélica

    ReplyDelete
  3. Postado em nome de Eric Dantas:
    Olá Vivian, como vai?

    Obrigado pela divulgação do lançamento de meu livro no seu blog. Estou bastante contente.

    Quando eu souber de qualquer novidade literária (curso, sarau, prêmio, palestra, feira de livro etc) eu te aviso.

    Grande abraço.

    Eric

    ReplyDelete

Thank you for your comment. It will appear shortly.
Obrigada por sua mensagem. Ela aparecerá aqui em breve.